MANIFESTO
Por que existimos?
Entre os dias 16 de agosto a 16 de setembro, fizemos um levantamento de todas as fotografias veiculadas nas capas do jornal Folha de S. Paulo a fim de identificar o percentual de imagens feitas por mulheres. O resultado, dentro do que se espera sobre a participação de fotógrafas nesses espaços de destaque, assemelha-se com o de pesquisas internacionais. Em 2018, segundo referências da iniciativa Women Photograph, no The New York Times, considerado o maior jornal do mundo, as mulheres não estiveram nem em 20% das capas. Desse percentual, em um total de 392, apenas 19 delas são não-brancas.
No Brasil, os dados retirados das primeiras páginas do jornal Folha de S. Paulo mostram que dentre 32 capas analisadas, com um total de 53 fotos publicadas, apenas três foram feitas por mulheres, as quais todas são brancas. Dessas imagens, uma é sobre mulheres lésbicas, uma é sobre turismo e outra é um retrato de coluna social. Nas imagens publicadas por homens, as pautas permeiam temas do fotojornalismo, como política, coberturas de confrontos, documentações de áreas de conflito, dia a dia das cidades e manifestações religiosas.
QUAIS SÃO OS PAPÉIS SOCIAIS ATRIBUÍDOS
ÀS PESSOAS QUE PRODUZEM IMAGENS?
No que concerne a atuação de mulheres no fotojornalismo, percebemos uma evidente diferença de ocupação de espaços na profissão. Enquanto homens estão presentes em funções mais dinâmicas e em atividades de destaque, as fotógrafas atuam em pautas mais comedidas e de pouca circulação. Essas ausências de representatividade também podem ser analisadas em outros cenários da produção visual. Segundo levantamento da organização Mulheres Negras nas Artes (MUNA), nas cinco principais galerias do sudeste do país, em 2017, dos 160 artistas representados, 56 são mulheres, e dentre elas apenas uma artista é negra.
Além de nos questionarmos sobre a evidente disparidade de mulheres que atuam nesses espaços em relação aos homens, devemos refletir sobre questões que excedam apenas uma análise numérica, e ainda, a relação binária que reduz as múltiplas identidades e invisibiliza a presença da diversidade de corpos atuantes.
"A questão é que, por muito tempo no fotojornalismo, os contadores de histórias são em grande parte homens brancos. Agora, se os contadores de histórias fossem todas mulheres, isso também seria um problema. Nossos contadores de histórias têm sido homogêneos, enquanto nossa sociedade é incrivelmente diversa."
DANIELLE VILLASANA
Tradução livre*
Disponível: https://www.nytimes.com/2019/02/05/lens/women-of-color-photojournalism-authority-collective.html
Por essas questões, carecemos de estimular a necessidade de uma análise crítica das fotografias. Produzir imagens é produzir sentidos, fazer escolhas. Analisar os contextos dessas produções é identificar quais escolhas foram feitas e quais foram deixadas de lado, é considerar o que as fotografias mostram, mas também o que omitem. Quem as produziu? Para quem produziu? Quem elas representam e como? Essas tomadas de decisão são feitas não só por quem detém os meios técnicos da fotografia, mas a quais grupos esses sujeitos* atendem. Inerente ao questionamento das produções e representações das imagens, estão as circunstâncias de reprodução, circulação e legitimação desses regimes de visualidade.
A dominância de alguns grupos no poder dos meios de produção em detrimento de outros constitui a base estrutural da sociedade. Através desse domínio constroem padrões de controle social e representações culturais convencionalizadas, que buscam definir como devemos viver e agir no mundo. As imagens constituem regimes de verdade, normatizações e homogeneizações que engendram estereótipos excludentes.
É urgente questionar e refletir sobre como podemos romper privilégios e códigos de sociabilidade. Seu corpo tem o direito de existir no presente? O quão pertencente você é ao lugar? Você se localiza no centro ou na margem? Como você é visto/a/e socialmente? Indagações como essas nos possibilitam nomear traumas e violências, nos responsabilizar e descobrir outras formas de existir.
EXISTÊNCIA / EXISTIR / EXISTIMOS
YVY 3x4
Iniciada em 2016, em Curitiba, a YVY MULHERES DA IMAGEM é uma iniciativa que reúne mulheres** que usam a imagem como modo de vida, de trabalho e expressão. A YVY agrega represetantes de várias regiões do país e busca fortalecer, defender e articular suas ideias de lutas por meio de imagens e pesquisas. Nosso objetivo é colocar em relevo a atuação e subjetividade de mulheres da imagem.